SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresentou leve alta no começo desta terça-feira (29), recuperando algumas das perdas da véspera. A movimentação acompanha a expectativa por um novo alívio tarifário nos Estados Unidos e dados da maior economia do mundo ao longo da semana.

Às 9h04, o dólar subia 0,15%, a R$ 5,6570. Na segunda (28), o dólar fechou em queda de 0,72%, cotado a R$ 5,647, e a Bolsa avançou 0,20%, a 135.015 pontos.
Os investidores se mantiveram atentos às incertezas comerciais envolvendo Estados Unidos e China.
I
nformações conflitantes sobre um possível acordo entre as duas maiores economias do mundo têm pautado os negócios globais. “O tema principal continua o mesmo: a incerteza quanto às tarifas norte-americanas”, disse o analista Renato Nobile, da Buena Vista Capital.
“Há uma tese de que os países emergentes têm se beneficiado, e o Brasil é um deles. O mercado está procurando alternativas fora dos Estados Unidos.”
Donald Trump afirmou, na semana passada, que consideraria uma “grande vitória” reduzir as tarifas aplicadas a produtos chineses para 50%, ante as de 145% em vigor atualmente. Em entrevista à revista Time na sexta-feira, ele também disse que conversou ao telefone com o líder chinês, Xi Jinping, sobre a guerra tarifária.
A iniciativa da conversa teria partido do mandatário asiático, segundo Trump. “Ele telefonou. E não acho que isso seja um sinal de fraqueza da parte dele”, afirmou.
Mas o regime chinês negou que tivesse havido uma conversa: “A China e os EUA NÃO estão realizando nenhuma consulta ou negociação sobre tarifas. Os EUA devem parar de criar confusão”, escreveu o Ministério das Relações Exteriores chinês, em declaração publicada pela Embaixada da China nos EUA e postada no X (ex-Twitter).
O recado foi reforçado nesta segunda por Guo Jiakun, porta-voz do Ministério. “Até onde eu sei, os dois chefes de Estado não telefonaram um para o outro recentemente. Gostaria de reiterar que a China e os EUA não realizaram consultas ou negociações sobre a questão das tarifas”, afirmou em entrevista coletiva.
“Se os EUA realmente quiserem resolver o problema por meio de diálogo e negociação, devem parar de ameaçar e chantagear a China.”
Apesar do disse-me-disse, os dois países têm sinalizado disposição para desescalar a guerra comercial.
Segundo reportagem da Reuters, o governo Trump está analisando a possibilidade de reduzir as tarifas sobre alguns produtos chineses, enquanto Pequim pediu para que todas as taxas “unilaterais” fossem canceladas.
A China hoje aplica encargos adicionais de 125% sobre produtos norte-americanos como resultado da guerra tarifária. Algumas importações já foram isentas das sobretaxas, e os chineses estão pedindo para que empresas com negócios nos dois países identifiquem quais outros produtos críticos precisam da isenção.
O cenário é misto para os operadores. Ao mesmo tempo em que a falta de informações concretas sobre as negociações impõe cautela, a mera sinalização de que um acordo é possível inspira alívio.
“Os EUA têm feito comentários sugerindo a possibilidade de um arrefecimento das tensões comerciais, mas a China tem desmentido que qualquer tipo de contato esteja acontecendo. Nesse momento, o ambiente é um pouco menos avesso ao risco e mostra que a recuperação da semana passada ainda está em curso, já que há pelo menos sinais de que o abrandamento das tensões pode acontecer”, diz Leonel Oliveira Matos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Mas ainda vemos muita volatilidade à frente.”
Em Wall Street, o clima de incerteza fez os índices operarem mistos. O S&P500 ficou estável, com ligeira variação positiva de 0,10%. O Nasdaq Composite caiu 0,10%, enquanto o Dow Jones subiu 0,28%
Parte de movimento também deriva das expectativas sobre indicadores econômicos nos Estados Unidos, que incluem dados de mercado de trabalho, PIB, índice de inflação PCE e uma série de balanços corporativos.
O foco está na sexta-feira, quando serão conhecidos os números do payroll (folha de pagamento, em inglês).
“Após a forte criação de empregos em março, o relatório de emprego de abril deverá mostrar uma desaceleração, provavelmente impulsionada por políticas imigratórias mais rígidas e pelo que pode ser um número crescente de congelamentos de contratações em meio à maior incerteza econômica e aos custos tarifários”, disseram analistas do BTG Pactual em relatório.
Na cena doméstica, investidores avaliaram declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de Gabriel Galípolo em evento promovido pelo Banco Safra.
Galípolo disse que o BC precisa reunir confiança de que a inflação está convergindo para a meta e que a política monetária está produzindo os efeitos desejados, ressaltando que não há uma variável única que vá dar essa segurança e é preciso reunir uma diversidade de dados.
“Ele não deixou nenhum sinal sobre uma possível queda de juros em breve. Galípolo reiterou que o BC fez um esforço grande para avançar a política monetária para terreno contracionista e que ainda estão mensurando em qual patamar e por quanto tempo os juros ficarão altos. O discurso mais hawkish [combativo à inflação], na minha visão, colaborou para a alta dos juros futuros hoje”, diz o economista Fabio Louzada, fundador da Eu me banco.
Já Haddad disse que a economia brasileira é grande demais para ser satélite de qualquer outro país e que a guerra comercial “é uma oportunidade para o Brasil fazer valer sua diplomacia comercial e obter vantagens bilaterais”.
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