RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As meias de lurex de Júlia Matos (Sônia Braga) em “Dancin’ Days” (1978), a blusa ciganinha de Babalu (Leticia Spiller) em “Quatro por Quatro” (1994), as bolsas Michael Kors de Carminha em “Avenida Brasil (2012) e a regatinha de Guta (Julia Dalavia) em “Pantanal” (2022). Basta citá-los para que a imagem dessas roupas e acessórios venham à mente de quem assistiu às produções, de décadas e autores diferentes.

Os figurinos das novelas têm um impacto enorme na moda e no imaginário popular. Muitas tendências nascem nas telinhas e rapidamente se espalham pelas ruas -e é exatamente esse o efeito que Marie Salles espera alcançar com “Vale Tudo”.
Responsável por figurinos de novelas como “A Favorita” (2008), “Viver a Vida”(2009), “Cordel Encantado” (2011), “Renascer” (2024), além das já citadas “Avenida Brasil” e “Pantanal”, entre outras, Marie está na Globo desde 1997 e tem um novo desafio pela frente com o remake escrito por Manuela Dias.
A figurinista conta que um de seus trabalhos prediletos é o look do vilão de Cesar Ribeiro (Cauã Reymond): “O personagem é pop, um outsider único com camisetas de cantores do anos 1980 aos 2000, e filmes clássicos”. Marie também lista as grifes que a sofisticada Odete Roitman (Debora Bloch) vai usar e comenta o visual planejado para Heleninha Roitman (Paolla Oliveira).
PERGUNTA – Qual o principal desafio de criar o figurino para uma novela tão marcante como “Vale Tudo”?
MARIE SALLES – Acho que nunca trabalhei tanto porque estou muito determinada em deixar tudo perfeito. O desafio maior é me acalmar (risos). A novela está linda. Estamos fazendo um trabalho impecável e ainda nem começou.
P – As roupas de uma produção são um retrato da época. O que podemos esperar da novela?
MS – ‘Vale Tudo’ é contemporânea, mostra os dias atuais, mas apresenta uns fan services [elementos que não são essenciais para a história principal, mas são incluídos para entreter e atrair audiência] no figurino, como os laços de cabelo da Solange (Alice Wegmann) e o broche que a Odete Roitman (Debora Bloch) vai usar.
P – A bolsa Marc Jacobs da Carminha em “Avenida Brasil” e a blusa regata de Guta em “Pantanal” viraram tendência. Você apontaria algum destaque no figurino de “Vale Tudo”?
MS – Acho difícil apontar porque é uma resposta que vem do público. É muito genuíno. Mas se for para arriscar, diria que os laços da Solange.
P – Poderia descrever o que pensou para a Odete Roitman?
MS – A Odete usa muito Giorgio Armani, Dior, Thierry Mugler, Valentino, Burberry e Chanel. Para compor o guarda-roupa da personagem, que usa muito vintage, recorri a brechós de luxo em São Paulo, além de contar com a parceria de estilistas, como Alexandre Herchcovitch, Mateus Cardoso, Sandro Barros e Vitor Zerbinato, que fizeram looks exclusivos. Ela também usa Misci e Andrea Bogosian.
P – O que veremos em outros personagens?
MS – Acho que os figurinos da Maria de Fátima (Bella Campos) e o da Solange (Alice Wegmann) são duas apostas, mesmo que sejam opostos. A Fátima tem muitas mudanças. A primeira é quando ela sai de Foz do Iguaçu, no Paraná, e vai para o Rio de Janeiro depois de dar o golpe na mãe. O look dela em Foz já é um tom acima. Por meio das suas roupas, ela já mostra que é ambiciosa e quer mais do que tem.
P – Como assim?
MS – Ela segue mídias sociais, é antenada e faz o que pode com poucos recursos. O verde e o roxo são as suas cores predominantes. Quando ela vai para o Rio e toma uma banho de loja com roupas caras e de boa qualidade, nosso ponto de partida foi o trench coat [casaco] verde limão que ela usa para entrar no Copacabana Palace. A partir daí, essa cor é um fio condutor para algumas roupas de Fátima.
P – E a Solange?
MS – A Solange é muito ligada ao meio ambiente, à sustentabilidade. Com essas características, a gente achou bacana fazer uma personagem que usa 90% das peças de segunda mão. As roupas dela foram compradas em brechós, tanto de luxo como de igrejas, feiras. Ela tem um pouco de tudo, é uma roupa bem ressignificada.
P – E quanto ao figurino do César Ribeiro (Cauã Reymond)?
MS – É um dos meus prediletos. O personagem é pop, um outsider único, com camisetas de cantores do anos 1980 aos 2000, e filmes clássicos. César tem uma pegada bem contemporânea com sua jaqueta verde. Assim como Maria de Fátima, o roxo e o verde são cores bem predominantes na paleta dele.
P – Heleninha…
MS – A Helena (Paolla Oliveira) se esconde. Normalmente, está com um casaco, uma camisa por cima da roupa. Ela quase sempre usa uma terceira peça, e também tecidos fluidos e moles com uma paleta clássica de caramelo, azul marinho, verde e vermelho escuro.