Morre Wlamir Marques, 87, gigante da história do basquetebol brasileiro

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O menino Wlamir, de dez anos, tinha acabado de mudar de casa em São Vicente, cidade do litoral paulista onde nasceu. Seus novos amigos batiam uma bola laranja e o chamaram para se juntar a eles. “Eu pulei o muro. E nunca mais saí de uma quadra de basquete”, contaria depois, recordando o momento em que despertou para sua vocação.

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Wlamir Marques morreu nesta terça-feira (18), após um período internado na UTI de um hospital particular de São Paulo. A informação foi divulgada pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete). “Wlamir deixa um legado eterno, sendo lembrado como um dos maiores atletas a representar o Brasil no esporte mundial”, escreveu a entidade.

Partiu como um dos maiores nomes da história do basquete -ou do basquetebol, como preferia- no Brasil. Provavelmente, como apontam muitos estudiosos da modalidade, o maior.

O polivalente ala de 1,85 m foi bicampeão do mundo com a seleção brasileira e vice em duas oportunidades. Expoente de uma geração histórica, atuou entre os anos 50 e 60 com nomes como Amaury, Ubiratan e Rosa Branca e conquistou duas medalhas olímpicas. Uma trajetória mais do que suficiente para incluí-lo -muito tardiamente, é verdade, apenas em 2023- no Hall da Fama da Fiba (Federação Internacional de Basquetebol).

O talento o levou ao XV de Piracicaba e, de lá, ainda adolescente, à seleção. Já era um nome bem estabelecido no time nacional quando, às vésperas do Mundial de 1959, abandonou a concentração para acompanhar o nascimento de um de seus filhos, também Wlamir. Cortado pelo disciplinador Togo Renan Soares, técnico mais conhecido como Kanela, acabou sendo reconvocado.

“Voltei como se não tivesse acontecido nada. Foi um ato de rebeldia. Concordo que merecia ter sido cortado, mas foi tudo de cabeça pensada. Não me arrependo. Depois que ganhamos o Mundial e estávamos voltando ao Brasil, o Kanela se sentou ao meu lado no avião e disse: ‘Alemãozinho, quase que nós jogamos tudo isso fora'”, recordou, em entrevista à Folha em 2019.

A saborosa conquista no Chile provavelmente não teria sido possível sem a desclassificação da invicta União Soviética -no contexto da Guerra Fria, os soviéticos se recusaram a enfrentar Formosa (hoje Taiwan), que jogava como nação independente da China. Mas, em 1963, no Rio de Janeiro, no maior momento do basquete brasileiro, não houve asteriscos.

O Brasil ganhou todos os jogos que disputou no Maracanãzinho, sacramentando o triunfo com uma vitória por 85 a 81 sobre os Estados Unidos, de Willis Reed, com cesta decisiva de Wlamir. De acordo com Nelson Rodrigues, cujos olhos míopes se encheram com a festa que tomou conta do Rio, observou-se uma embriaguez coletiva antes só provocada pelo futebol. “A cada passo, via-se um brasileiro com a cara civicamente entornada na sarjeta. [] O basquete nos deu os seus primeiros bêbados”, escreveu o cronista, em O Globo.

“Aquilo foi um negócio que foi crescendo. No primeiro jogo, não tinha tanta gente. Mas a gente foi ganhando, fomos campeões invictos. No jogo final, tinha gente pendurada em todos os cantos do Maracanãzinho, e nem é o Maracanãzinho de hoje, cabia muito mais gente. Teve invasão no fim. É uma lembrança muito boa”, disse o Diabo Loiro, como era chamado o craque, em entrevista à Folha em 2023.

Ele sempre fez questão de valorizar também os dois vice-campeonatos mundiais da seleção, obtidos em 1954 e 1970. Suas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, e de 1964, em Tóquio, onde foi porta-bandeira, ajudam a construir um currículo sem verdadeiro paralelo no basquete mundial, não só o brasileiro.

Também não há um jogador de basquetebol do Brasil tão reconhecido por um clube quanto Wlamir é pelo Corinthians. Os boleiros Neco, Teleco, Cláudio, Luizinho, Baltazar, Basílio, Rivellino, Zé Maria, Wladimir, Sócrates, Ronaldo (o goleiro, óbvio) e Marcelinho têm bustos na sede social da agremiação, o Parque São Jorge. Wlamir não tem só um busto. O busto está no ginásio que é chamado desde 2016 de Ginásio Poliesportivo Wlamir Marques, o Wlamirzão. Nenhum jogador do time usa a camisa 5, aposentada em honra ao maior.

“A emoção de o Corinthians ter dado o meu nome ao ginásio é a maior que eu poderia ter recebido na minha vida esportiva”, repetiu muitas vezes Wlamirzão, que, morador da zona leste paulistana, virou frequentador assíduo do Wlamirzão. Viu, por exemplo, à beira da quadra, a sonhada conquista da Liga Nacional de Futsal, em 2016.

Não há nenhum exagero na coroação a um ídolo apreciado pelo talento e por ter sido o portador da alegria preta e branca em um momento no qual o futebol alvinegro vivia o seu pior momento, em meio a 23 anos de jejum. Se a equipe do gramado não ganhava nada, aquela que tinha Wlamir na quadra ganhou três edições do Brasileiro (1965, 1966 e 1969), cinco do Paulista (1964, 1965, 1966, 1968 e 1969), sete do Paulistano (1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 e 1970) e três do Sul-Americano (1965, 1966 e 1969).

O jogo mais emblemático, porém, nem valeu título. Em 1965, o então bicampeão europeu Real Madrid visitou a América do Sul e fez uma partida contra o Corinthians no Parque São Jorge. Wlamir precisou tomar injeções para conter uma reação alérgica que o impedia de abrir os olhos e marcar ao menos 40 pontos- o cuidado estatístico não era o atual, e o próprio ala dizia ter anotado 51- na vitória preta e branca por 118 a 109.

“Foi o maior jogo de basquete que eu fiz na minha vida”, resumiu o Disco Voador, outro dos apelidos do cidadão emérito de São Vicente que fincou raízes no Parque, onde será vizinho eterno de Neco, Luizinho e Sócrates.
O menino pulou o muro.

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